terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Capitulo 1


CAPITULO 1

Acordei assustada, pois tive pesadelos essa noite, e há muito tempo eu não tinha esses sonhos terríveis.. Pois fiz um tratamento com minha psicóloga, e até então estava tudo bem. Eu tenho um probleminha, e não quero que as pessoas saibam, porque se as pessoas souberem não vão me tratar da mesma maneira. Entre meus amigos e minha família, apenas minha mãe sabe, mas ela me entende, agora os outros? Eles não podem descobrir. A última pessoa que descobriu, acabou muito mal, eu não gosto nem de pensar, pois ele era muito importante para mim.
 Algo interrompe meus pensamentos, então minha mãe entra no quarto, os cabelos louros dela reluzem a luz do dia, seus olhos castanhos brilham enquanto a luz do sol adentra no quarto, ela me olha como sempre, com um olhar de esperança, como se tudo pudesse mudar. Minha mãe sempre tão viva e tão alegre, seu nome é Laya.
 – Com licença querida! O Café está na mesa - diz mamãe.
– Já vou mamãe, só aguarde cinco minutinhos, e já vou.

Quando desço vejo que ela preparou minha refeição favorita, panquecas de maçã, com cauda de caramelo.
– HUMMMMMMMMMM – eu digo fitando o prato a minha frente – parece estar delicioso, aposto que o David ficará contente em saber que você sabe cozinhar.
– Querida, não fale assim dele, ele é um bom homem.
– Sim mamãe, me desculpe! – Eu digo olhando para ela, nunca imaginaria que minha mãe fosse gostar de novo de alguém depois do que aconteceu com o meu pai.
Eu a olho com um olhar triste, apesar de tentar esconder minhas emoções, não consigo, e ela decifrou meu olhar.
– Catherine, não precisa seu culpar todos os dias por...
– Olá pessoal! – David entra na sala e me encara com um breve sorriso, acho que tenta ser ameaçador, mas não tenho medo dele.
– Oi am ... Quer dizer David. – Minha mãe não sabe nem um pouco ser discreta.
– Oi David - eu digo um pouco incomodada com a presença de praticamente um estranho.
– Olá queridinha. – Ele diz com um tom de voz, que parece estar tentando fazer com que  me intimidasse.
– Eu já volto, vou até a cozinha pegar mais algumas panquecas – ela diz alegremente.

Então algo estranho ocorreu, eu senti um par de mãos sobre meus ombros, era David novamente tentando me intimidar.
– Eu já disse como você se parece muito com a sua mãe? Muito experiente em deixar caras estranhamente excitados, e ao mesmo tempo incomodados com uma presença tão... favorável. – Ele diz me fitando, e eu encarando a parede.
– Tire as suas mãos de mim, antes que eu aumente o tom de voz, e te faça engasgar com um só pensamento, ai você engole essa panqueca, e talvez morra! - Eu digo tentando não parecer incomodada.
– Ui, como a garotinha sabe fazer um homem ficar lúcido.
David é estranhamente, bonito, charmoso, arrogante, e muito irritante.
– Voltei! - Diz minha mãe, sempre com um tom alegre.
– Humm, e você trouxe mais panquecas, adoro panquecas de maçã - David diz isso com alegria, como se as panquecas dessem prazer a ele.
– Eu perdi a fome, estou muito atrasada para a escola, com licença. - Digo saindo devagar, mas ao mesmo tempo louca para sair correndo.
– Cat. Digo, posso te chamar assim? – David me olha como se eu fosse um pedaço de carne.
– Claro David! – Eu digo com um tom irônico.
– Cat, eu já estou indo para o trabalho, posso te dar uma carona se quiser.
– Não, eu me viro bem sozinha, eu pego o ônibus da escola, Tchau gen...
– Ora, vamos, eu estou de carro é bem mais rápido.
– NÃOO.– Eu grito em desespero. – Desculpem-me, mas eu não preciso. Obrigada David, mas não.
Não aceitei a carona, pois nunca confiei em David.
Viro em um pulo da cadeira, agarro minha mochila que estava ao lado do pé da mesa, e saio pela porta, a última coisa que eu ouvi, foram suspiros de minha mãe por David.

Paro no ponto de ônibus, e espero pelo ônibus da escola. Minha melhor amiga vem vindo ai. Bom, para falar a verdade, ela não é bem minha amiga, mas eu a deixo pensar que é.
– Oi Cat. – Ela diz em alegria.
– Bom dia, Shiz. – digo indiferente.
O nome dela é Shizzie, isso não é bem nome de gente, mas quando a mãe dela ainda morava na Irlanda, teve uma melhor amiga chamada assim, então ela faleceu, e assim ficou o nome da minha não - melhor amiga.
– Ansiosa? – Ela me pergunta.
– Pra que? Para o último dia de aula? Estou cantando vivas. – digo a última parte ironizando.
E de repente eu ouço em minha cabeça o que David me disse alguns minutos atrás. – Como a garotinha sabe fazer um homem ficar lúcido.

Fico me perguntando por que pensei nisso, mais ai lembro-me de quando eu era da quinta série, fiz um garotinho ficar lúcido, ficar louco, ele tentou comer os próprios pés. Não sei como fiz isso, ele estava implicando comigo, então desejei que algo de mal acontecesse com ele e aconteceu, ele realmente ficou alucinado. Será que David sabe? Como ele poderia? Minha mãe haveria contado a ele? Não pode ser.
Então algo me traz a realidade. A presença de um esquilo. A presença de um esquilo me desconcentrou. Ok né.
– Ele não é fofo? – Diz Shiz, fitando o pobre esquilo.
– Olha nosso ônibus, vamos correr senão perdemos.

Andamos um pouco rápido demais porque Shiz escorregou-se nos próprios pés até que caiu. Tive de conter o riso, pois foi uma queda um tanto engraçada.
Pegamos o ônibus, e em 10 minutos já estávamos na escola. – Shiz vê Simon. Simon é um garoto da escola. O garoto que eu machuquei anos atrás.
 Ando um pouco distraída, pois não me sinto a vontade com sua presença. Então ocorre um flashback em minha mente.

Estávamos na escola, eu tinha 11 anos e era da quinta série. Um mês antes, o incidente com meu pai aconteceu, demorei alguns dias para me reestabelecer até a psicóloga do colégio me convocar para uma reunião especial.
Eu estava na porta da escola, na hora do recreio, meu celular tocou.
 – Cat, onde você está? – Reconheci a voz imediatamente, a voz fina de Shiz entrou pelos meus ouvidos ensurdecendo-me.
Eu já estou entrando – respondi tentando me adaptar ao volume da voz de Shiz no meu ouvido.
 Alguns minutos depois, Simon chegou, ele era tão cheio de vida, um garoto bonito, mas apenas um lindo garotinho de 11 anos. E o melhor: Rodeado de amigos.
Olá ele diz com uma voz suave, o sol bate em seus cabelos cor de mel e transmitem um brilho que me faz acreditar que ele provavelmente usa produtos para cabelo.
Oi Simon. – disse encarando seus pés com vergonha.
Ouvi sussurros vindo do grupo que Simon liderava. Ele virou seu rosto com confiança estampada, óbvio que ele iria zoar-me.
Cat, você se lembra de quando disseram que você tinha matado seu pai? Digo, você realmente fez isso? Todos nós estamos nos perguntando, o bolão da turma está crescendo cada dia. Culpada ou Inocente? – Simon diz isso com um sorriso sarcástico.
Eu apostei no culpada! – disse Rick e todos no grupo riram.
 Minhas mãos tremiam, eu achei que iria ter um colapso nervoso, eu nunca tinha sentido aquela sensação antes, uma sensação de nervosismo junto com raiva. Então fiz algo que eu nunca acharia que podia fazer. Eu só desejei algo ruim a ele, pois aquela pergunta, nunca fez sentido nem para mim. Então simplesmente aconteceu.
 Ele caiu de bruços e caiu em agonia, ele gritava de dor, gritava de raiva, dizia que nunca me perdoaria, mas aquilo não fazia sentido para mim.
Você é um tipo de demônio? Porque fez isso? – Ele disse rangendo os dentes.
 Atrás de mim se ouviam cochichos, do tipo – Você viu aquilo? – Como ela fez isso? – Ela é do mal.

Então depois daquele dia nunca mais descansei de verdade, toda vez que prego os olhos aquelas imagens me vêem a cabeça.
– Cat, você está bem? – Disse Shiz.
– Sim, só estava tendo um devaneio. – Eu digo.
– Hum, estão ta, vamos para a aula logo, porque o Sr. Lestney não espera.

Cheguei à sala de aula, eu sento na fila do meio, na quarta cadeira de trás para frente. Shiz senta logo atrás de mim.
– Bom dia crianças. – Diz Sr. Lestney um pouco mais feliz do que o normal hoje.
– Bom dia Sr. Lestney - os alunos falam em um tom de voz baixo como se estivessem com muito sono.
– Hãa, Sr. Lestney, quando o Sr. vai notar que não somos mais crianças? Temos cada um dezesseis anos, estamos no segundo ano do ensino médio. Alôoo, não somos crianças. – Disse uma aluna no fundo da classe.
– Sim, sim, sei disso, só faço isso para incomodar vocês e vejo que funciona. – Diz Sr. Lestney.
– Enfim, hoje vocês vão aprender um pouco sobre como devem respeitar uns aos outros, porque vejo que isso não acontece muito em sala de aula.
O Sr. Lestney disse isso olhando para mim, diretamente para mim, porque ele disse isso olhando para mim?
– Sr. Lestney, porque está nos falando isso? – pergunto.
– Porque Srtª Macoy, o mundo está precisando de um pouco mais de educação hoje em dia, principalmente para levantar a mão em minha aula. – Diz Sr. Lestney, com um tom nada amigável.
– Mas eu ...
– Nada disso, você interrompeu uma aula sem levantar a mão.
 O Sr. Lestney chegou à classe tão feliz, agora seu tom de voz era desafiador, quase assustador.
– Vá para a detenção após a aula Srtª Macoy.
Pfff, eu odeio a detenção. – Pensei.

 5 horas depois de muitas aulas chatas, chega a hora da minha detenção.
A detenção é um lugar horrível, é no porão da escola, eu nunca achei que seria tão horrível assim estar detida na escola depois do horário. Mas está tudo bem, liguei para minha mãe avisando sobre o ocorrido, e ela ficou surpresa, pois eu nunca havia ficado na detenção.
–Olha quem está aqui galera, é a garotinha dos pensamentos demoníacos. – Disse uma voz familiar atrás de mim.
Sim, essa voz familiar era de Simon.
– Então Macoy, como vai a vida de garota demoníaca?
– Simon, eu... – Tentei dizer o resto, mas não saiam palavras de minha boca, foi algo como, Si on m scupe.
–Não diga nada Macoy, pois se ficará de detenção terá que fazer o que nós mandarmos. – Disse Simon.
Então criei coragem para falar com o garotinho que eu havia machucado há muito tempo, e que agora era um garoto com rancor, e uma cicatriz no pé, pois como eu disse ele tentou come-lo.
 – Simon, eu sinto muito. – Eu disse pausadamente, esperando por um segundo que ele me desculpasse.
– Você sente muito? Sabe quantos anos eu demorei para esquecer? Nenhum, pois eu ainda não esqueci Macoy.
– Agora você está aqui, e fará tudo o que quisermos.
Um tipo de raiva percorreu meu corpo.
– Não sou seu brinquedinho. – Eu disse em baixo tom de voz.
– Não meu, mas dos meus amigos quem sabe.
–NÃO. Simon, você não vai me fazer ficar daquele jeito novamente, eu não farei aquilo de novo. Não te machucarei de novo, nenhum de seus amiguinhos. – Eu disse.
–Ui ui, acha que pode me machucar outra vez? Acha mesmo?
Não posso controlar, não posso controlar, não posso controlar. – Esse pensamento invadiu minha mente.
- Então, Elio, Valdez, e Rick venham. – Disse Simon.
Eles se aproximaram de mim, mas quando estavam prestes a fazer algo que não quero nem imaginar o que seria a porta do porão se abriu com um rangido forte. Um homem alto e de roupas pretas se aproximou. Ele parou na minha frente, mas de costas para mim, como se estivesse me protegendo. Não sei o que aconteceu, mas ele apenas olhou para os meninos, e eles saíram correndo, pularam a janela, que não ficava tão alta, na verdade eles abriram a grade usando apenas as mãos, e pularam, simplesmente pularam. Mas não parecia que tinham feito isso por querer.
- Qu-quem é você? – disse gaguejando.
Ao contrário de me responder o homem de roupas pretas saiu correndo por onde tinha entrado, e eu corri atrás, mas foi inútil, cheguei à porta dois segundos depois dele e ele sumiu. Simplesmente desapareceu em um corredor longo. Como ele pôde ter sumido assim?
Bloqueei meus pensamentos sobre isso, e fui direto para casa.
 Vinte minutos a pé e eu chego em casa, morta de cansaço. Abro a porta e fico feliz de ver que David não está em casa. Abro a porta do quarto de minha mãe e vejo que ela também não está em casa.
 Acho estranho, pois ela sempre está em casa depois das 13:00, e já são 14:15.
E se ela fosse sair ela me avisaria. Mas é claro que ela avisaria.
O medo percorre meu corpo, eu estou tão cansada, se não sei se caio direto na cama, ou se procuro por minha mãe.
Vejo que ela deixou um bilhete em cima da mesa, que diz.
Se quiser ver sua mãe viva outra vez,
me traga o que quero.
PS: Você sabe o que é.
Ass: David Dantes.

  Então fiquei perto da mesa, paralisada por quase dez minutos, só lendo e relendo aquelas letras. Não acredito que David seja tão cruel a ponto de seqüestrar minha mãe, ele é um monstro, só pode ser, ninguém seria tão mau assim. Minha mãe não. Ele me quer e não a minha mãe. E se é isso que ele quer, é isso que ele terá, mas não vai ser assim tão fácil conseguir.
Tento dormir de todas as maneiras possíveis, quero levantar da cama, correr atrás de minha mãe, quero abraçá-la, e dizer o quanto ela é importante para mim. Choro baixo, minhas lágrimas escorrem de meu rosto, passo a mão sobre meus olhos para enxugar as lagrimas. Esqueço que não há ninguém em casa, então não preciso chorar baixo, o que eu quero mesmo é gritar em agonia por ela não estar aqui comigo nesse momento difícil.
             Minha mãe, logo ela que sempre me entendeu, sempre me apoiou, nunca zombou de mim por meus incríveis talentos pensativos. Ela é meu anjo da guarda, sinto muito mesmo por existir gente tão má como o David. Só de pensar em seu nome me dá náusea.
            Então meu choro passa, e acho que consigo cochilar, porque meus olhos escurecem por um instante. O sonho vem logo após eu fechar os olhos.

Isso foi mais cedo, antes do incidente com Simon.
  Aqui estou eu novamente na quinta serie, eu tinha onze anos. Estou chegando na escola, passando pelo corredor mais fino desse lugar. Shiz está ao meu lado andando comigo. Simon estava andando em minha direção, então ele para e nos olha.
– Estão bem vestidas hoje – disse ele.
– Obrigada Simon – eu disse com naturalidade.
– É, eu já sabia disso Simon – Shiz disse isso com tanta certeza, que tive até vontade rir, ela era realmente muito convencida.
– Então Cat, me desculpe pelo o que acontecerá hoje – ele disse um tanto nervoso.
– Hã? – perguntei
– É uma brincadeirinha, você sabe, meu grupo, eles adoram brincar com os outros.
– Ah sim, – eu realmente não sabia do que ele estava falando.

Andávamos pelo corredor com uma lâmpada quebrada. E então estávamos na hora do recreio. Eu estava conversando com Shiz. Simon como sempre fofocando com seus amigos. Até que aquilo acontece. Simon me perguntava sobre meu pai, e eu com raiva apliquei um pensamento mal sobre ele.

            Acordei e já era de manhã, então me dei conta novamente que minha mãe não estava em casa. Fui para a cozinha, fitei a parede solitária. Ninguém me abraçaria me desejando um bom dia, ninguém faria para mim panquecas de maçã. Ninguém mais me entendia.
            A porta se abriu. Por precaução peguei uma faca que estava no faqueiro, e coloquei as mãos para trás.
            Quem está ai? – Acho isso engraçado pois, sempre quando vejo filmes acho muita tolice as pessoas que chegam e perguntam, QUEM ESTÁ AI?
            Ninguém reponde.
Eu tenho uma faca na mão – ai que tolice a minha.
Com licença, desculpe-me se te assustei – Conheço esse cara, ele é um vizinho. Ian.
Ahh, Ian, eu sou meio que apaixonada por ele desde a sexta série. Ele mexe comigo, e mexe muito.
– Eu vim a pedido de minha mãe – disse ele.
– Sim? – Eu digo tampando os olhos com a mão, por causa dos raios solares que entram pela janela.
– Ela me perguntou o que aconteceu, digo, ontem a tarde ela ouviu uns gritos, ela disse que pareciam vir daqui. – diz ele.
– Ela ouviu? – Eu digo um tanto esperançosa. – Que palavras ela ouviu?
            A expressão em meu rosto não é boa, e acho que ele notou, quando eu baixei o olhar.
– Está tudo bem Catherine? – Ele perguntou se eu estou bem, e acho que eu enlouqueceria com isso, se estivesse realmente tudo bem. Sou louca por ele há muito tempo, e ele nunca me perguntou se eu estava bem.
– É... não... é... nada – eu digo pausadamente.
– Então ta, se você precisar de algo, e só ligar.
– Eu ligo! – por favor, não vá! Quero muito dizer isso, mas as palavras sumiram completamente de minha boca.
             Agora estou novamente sozinha na cozinha, estou pensando em tantas coisas ao mesmo tempo que acho que é demais para um só cérebro. Penso em minha mãe, penso no cara de preto, o que será que ele havia feito para espantar aqueles garotos? Penso no porque David raptaria minha mãe, porque ele é louco por mim? Tantas perguntas não respondidas.