CAPITULO 1
Acordei assustada, pois tive pesadelos essa noite, e há muito tempo eu
não tinha esses sonhos terríveis.. Pois fiz um tratamento com minha psicóloga,
e até então estava tudo bem. Eu tenho um probleminha, e não quero que as
pessoas saibam, porque se as pessoas souberem não vão me tratar da mesma
maneira. Entre meus amigos e minha família, apenas minha mãe sabe, mas ela me
entende, agora os outros? Eles não podem descobrir. A última pessoa que
descobriu, acabou muito mal, eu não gosto nem de pensar, pois ele era muito
importante para mim.
Algo interrompe meus
pensamentos, então minha mãe entra no quarto, os cabelos louros dela reluzem a
luz do dia, seus olhos castanhos brilham enquanto a luz do sol adentra no
quarto, ela me olha como sempre, com um olhar de esperança, como se tudo
pudesse mudar. Minha mãe sempre tão viva e tão alegre, seu nome é Laya.
– Com licença querida! O Café
está na mesa - diz mamãe.
– Já vou mamãe, só aguarde cinco minutinhos, e já vou.
Quando desço vejo que ela preparou minha refeição favorita, panquecas
de maçã, com cauda de caramelo.
– HUMMMMMMMMMM – eu digo fitando o prato a minha frente – parece estar
delicioso, aposto que o David ficará contente em saber que você sabe cozinhar.
– Querida, não fale assim dele, ele é um bom homem.
– Sim mamãe, me desculpe! – Eu digo olhando para ela, nunca imaginaria
que minha mãe fosse gostar de novo de alguém depois do que aconteceu com o meu
pai.
Eu a olho com um olhar triste, apesar de tentar esconder minhas
emoções, não consigo, e ela decifrou meu olhar.
– Catherine, não precisa seu culpar todos os dias por...
– Olá pessoal! – David entra na sala e me encara com um breve sorriso,
acho que tenta ser ameaçador, mas não tenho medo dele.
– Oi am ... Quer dizer David. – Minha mãe não sabe nem um pouco ser
discreta.
– Oi David - eu digo um pouco incomodada com a presença de praticamente
um estranho.
– Olá queridinha. – Ele diz com um tom de voz, que parece estar
tentando fazer com que me intimidasse.
– Eu já volto, vou até a cozinha pegar mais algumas panquecas – ela diz
alegremente.
Então algo estranho ocorreu, eu senti um par de mãos sobre meus ombros,
era David novamente tentando me intimidar.
– Eu já disse como você se parece muito com a sua mãe? Muito experiente
em deixar caras estranhamente excitados, e ao mesmo tempo incomodados com uma
presença tão... favorável. – Ele diz me fitando, e eu encarando a parede.
– Tire as suas mãos de mim, antes que eu aumente o tom de voz, e te
faça engasgar com um só pensamento, ai você engole essa panqueca, e talvez
morra! - Eu digo tentando não parecer incomodada.
– Ui, como a garotinha sabe fazer um homem ficar lúcido.
David é estranhamente, bonito, charmoso, arrogante, e muito irritante.
– Voltei! - Diz minha mãe, sempre com um tom alegre.
– Humm, e você trouxe mais panquecas, adoro panquecas de maçã - David
diz isso com alegria, como se as panquecas dessem prazer a ele.
– Eu perdi a fome, estou muito atrasada para a escola, com licença. - Digo
saindo devagar, mas ao mesmo tempo louca para sair correndo.
– Cat. Digo, posso te chamar assim? – David me olha como se eu fosse um
pedaço de carne.
– Claro David! – Eu digo com um tom irônico.
– Cat, eu já estou indo para o trabalho, posso te dar uma carona se
quiser.
– Não, eu me viro bem sozinha, eu pego o ônibus da escola, Tchau gen...
– Ora, vamos, eu estou de carro é bem mais rápido.
– NÃOO.– Eu grito em desespero. – Desculpem-me, mas eu não preciso. Obrigada
David, mas não.
Não aceitei a carona, pois nunca confiei em David.
Viro em um pulo da cadeira, agarro minha mochila que estava ao lado do
pé da mesa, e saio pela porta, a última coisa que eu ouvi, foram suspiros de
minha mãe por David.
Paro no ponto de ônibus, e espero pelo ônibus da escola. Minha melhor
amiga vem vindo ai. Bom, para falar a verdade, ela não é bem minha amiga, mas
eu a deixo pensar que é.
– Oi Cat. – Ela diz em alegria.
– Bom dia, Shiz. – digo indiferente.
O nome dela é Shizzie, isso não é bem nome de gente, mas quando a mãe
dela ainda morava na Irlanda, teve uma melhor amiga chamada assim, então ela faleceu,
e assim ficou o nome da minha não - melhor amiga.
– Ansiosa? – Ela me pergunta.
– Pra que? Para o último dia de aula? Estou cantando vivas. – digo a
última parte ironizando.
E de repente eu ouço em minha cabeça o que David me disse alguns
minutos atrás. – Como a garotinha sabe fazer um homem ficar
lúcido.
Fico me perguntando por que pensei nisso, mais ai lembro-me de quando
eu era da quinta série, fiz um garotinho ficar lúcido, ficar louco, ele tentou
comer os próprios pés. Não sei como fiz isso, ele estava implicando comigo,
então desejei que algo de mal acontecesse com ele e aconteceu, ele realmente
ficou alucinado. Será que David sabe? Como ele poderia? Minha mãe haveria
contado a ele? Não pode ser.
Então algo me traz a realidade. A presença de um esquilo. A presença de
um esquilo me desconcentrou. Ok né.
– Ele não é fofo? – Diz Shiz, fitando o pobre esquilo.
– Olha nosso ônibus, vamos correr senão perdemos.
Andamos um pouco rápido demais porque Shiz escorregou-se nos próprios
pés até que caiu. Tive de conter o riso, pois foi uma queda um tanto engraçada.
Pegamos o ônibus, e em 10 minutos já estávamos na escola. – Shiz vê
Simon. Simon é um garoto da escola. O garoto que eu machuquei anos atrás.
Ando um pouco distraída, pois
não me sinto a vontade com sua presença. Então ocorre um flashback em minha
mente.
Estávamos na escola, eu tinha 11 anos e era da
quinta série. Um mês antes, o incidente com meu pai aconteceu, demorei alguns
dias para me reestabelecer até a psicóloga do colégio me convocar para uma
reunião especial.
Eu estava na porta da escola, na hora do
recreio, meu celular tocou.
– Cat, onde você está? – Reconheci a voz imediatamente, a voz fina de
Shiz entrou pelos meus ouvidos ensurdecendo-me.
– Eu já estou entrando – respondi
tentando me adaptar ao volume da voz de Shiz no meu ouvido.
Alguns
minutos depois, Simon chegou, ele era tão cheio de vida, um garoto bonito, mas
apenas um lindo garotinho de 11 anos. E o melhor: Rodeado de amigos.
– Olá – ele diz com uma voz suave, o sol bate em seus cabelos cor de mel e
transmitem um brilho que me faz acreditar que ele provavelmente usa produtos
para cabelo.
– Oi Simon. – disse encarando
seus pés com vergonha.
Ouvi sussurros vindo do grupo que Simon
liderava. Ele virou seu rosto com confiança estampada, óbvio que ele iria
zoar-me.
– Cat, você se lembra de quando
disseram que você tinha matado seu pai? Digo, você realmente fez isso? Todos
nós estamos nos perguntando, o bolão da turma está crescendo cada dia. Culpada
ou Inocente? – Simon diz isso com um sorriso sarcástico.
– Eu apostei no culpada! – disse Rick
e todos no grupo riram.
Minhas
mãos tremiam, eu achei que iria ter um colapso nervoso, eu nunca tinha sentido
aquela sensação antes, uma sensação de nervosismo junto com raiva. Então fiz
algo que eu nunca acharia que podia fazer. Eu só desejei algo ruim a ele, pois
aquela pergunta, nunca fez sentido nem para mim. Então simplesmente aconteceu.
Ele caiu
de bruços e caiu em agonia, ele gritava de dor, gritava de raiva, dizia que nunca
me perdoaria, mas aquilo não fazia sentido para mim.
– Você é um tipo de demônio?
Porque fez isso? – Ele disse rangendo os dentes.
Atrás de
mim se ouviam cochichos, do tipo – Você viu aquilo? – Como ela fez isso? – Ela
é do mal.
Então depois daquele dia nunca mais descansei de verdade, toda vez que
prego os olhos aquelas imagens me vêem a cabeça.
– Cat, você está bem? – Disse Shiz.
– Sim, só estava tendo um devaneio. – Eu digo.
– Hum, estão ta, vamos para a aula logo, porque o Sr. Lestney não
espera.
Cheguei à sala de aula, eu sento na fila do meio, na quarta cadeira de
trás para frente. Shiz senta logo atrás de mim.
– Bom dia crianças. – Diz Sr. Lestney um pouco mais feliz do que o
normal hoje.
– Bom dia Sr. Lestney - os alunos falam em um tom de voz baixo como se
estivessem com muito sono.
– Hãa, Sr. Lestney, quando o Sr. vai notar que não somos mais crianças?
Temos cada um dezesseis anos, estamos no segundo ano do ensino médio. Alôoo,
não somos crianças. – Disse uma aluna no fundo da classe.
– Sim, sim, sei disso, só faço isso para incomodar vocês e vejo que
funciona. – Diz Sr. Lestney.
– Enfim, hoje vocês vão aprender um pouco sobre como devem respeitar
uns aos outros, porque vejo que isso não acontece muito em sala de aula.
O Sr. Lestney disse isso olhando para mim, diretamente para mim, porque
ele disse isso olhando para mim?
– Sr. Lestney, porque está nos falando isso? – pergunto.
– Porque Srtª Macoy, o mundo está precisando de um pouco mais de
educação hoje em dia, principalmente para levantar a mão em minha aula. – Diz
Sr. Lestney, com um tom nada amigável.
– Mas eu ...
– Nada disso, você interrompeu uma aula sem levantar a mão.
O Sr. Lestney chegou à classe
tão feliz, agora seu tom de voz era desafiador, quase assustador.
– Vá para a detenção após a aula Srtª Macoy.
– Pfff, eu odeio a detenção.
– Pensei.
5 horas depois de muitas aulas
chatas, chega a hora da minha detenção.
A detenção é um lugar horrível, é no porão da escola, eu nunca achei
que seria tão horrível assim estar detida na escola depois do horário. Mas está
tudo bem, liguei para minha mãe avisando sobre o ocorrido, e ela ficou
surpresa, pois eu nunca havia ficado na detenção.
–Olha quem está aqui galera, é a garotinha dos pensamentos demoníacos.
– Disse uma voz familiar atrás de mim.
Sim, essa voz familiar era de Simon.
– Então Macoy, como vai a vida de garota demoníaca?
– Simon, eu... – Tentei dizer o resto, mas não saiam palavras de minha
boca, foi algo como, Si on m scupe.
–Não diga nada Macoy, pois se ficará de detenção terá que fazer o que
nós mandarmos. – Disse Simon.
Então criei coragem para falar com o garotinho que eu havia machucado
há muito tempo, e que agora era um garoto com rancor, e uma cicatriz no pé,
pois como eu disse ele tentou come-lo.
– Simon, eu sinto muito. – Eu
disse pausadamente, esperando por um segundo que ele me desculpasse.
– Você sente muito? Sabe quantos anos eu demorei para esquecer? Nenhum,
pois eu ainda não esqueci Macoy.
– Agora você está aqui, e fará tudo o que quisermos.
Um tipo de raiva percorreu meu corpo.
– Não sou seu brinquedinho. – Eu disse em baixo tom de voz.
– Não meu, mas dos meus amigos quem sabe.
–NÃO. Simon, você não vai me fazer ficar daquele jeito novamente, eu
não farei aquilo de novo. Não te machucarei de novo, nenhum de seus amiguinhos.
– Eu disse.
–Ui ui, acha que pode me machucar outra vez? Acha mesmo?
Não posso controlar, não posso controlar, não
posso controlar. – Esse pensamento invadiu minha mente.
- Então, Elio, Valdez, e Rick venham. – Disse Simon.
Eles se aproximaram de mim, mas quando estavam prestes a fazer algo que
não quero nem imaginar o que seria a porta do porão se abriu com um rangido
forte. Um homem alto e de roupas pretas se aproximou. Ele parou na minha
frente, mas de costas para mim, como se estivesse me protegendo. Não sei o que
aconteceu, mas ele apenas olhou para os meninos, e eles saíram correndo,
pularam a janela, que não ficava tão alta, na verdade eles abriram a grade
usando apenas as mãos, e pularam, simplesmente pularam. Mas não parecia que
tinham feito isso por querer.
- Qu-quem é você? – disse gaguejando.
Ao contrário de me responder o homem de roupas pretas saiu correndo por
onde tinha entrado, e eu corri atrás, mas foi inútil, cheguei à porta dois
segundos depois dele e ele sumiu. Simplesmente desapareceu em um corredor
longo. Como ele pôde ter sumido assim?
Bloqueei meus pensamentos sobre isso, e fui direto para casa.
Vinte minutos a pé e eu chego em
casa, morta de cansaço. Abro a porta e fico feliz de ver que David não está em
casa. Abro a porta do quarto de minha mãe e vejo que ela também não está em
casa.
Acho estranho, pois ela sempre
está em casa depois das 13:00, e já são 14:15.
E se ela fosse sair ela me avisaria. Mas é claro que ela avisaria.
O medo percorre meu corpo, eu estou tão cansada, se não sei se caio
direto na cama, ou se procuro por minha mãe.
Vejo que ela deixou um bilhete em cima da mesa, que diz.
Se quiser ver sua mãe viva outra vez,
me traga o que quero.
PS: Você sabe o que é.
Ass: David Dantes.
Então
fiquei perto da mesa, paralisada por quase dez minutos, só lendo e relendo
aquelas letras. Não acredito que David seja tão cruel a ponto de seqüestrar
minha mãe, ele é um monstro, só pode ser, ninguém seria tão mau assim. Minha
mãe não. Ele me quer e não a minha mãe. E se é isso que ele quer, é isso que
ele terá, mas não vai ser assim tão fácil conseguir.
Tento dormir de todas as maneiras possíveis, quero levantar da cama,
correr atrás de minha mãe, quero abraçá-la, e dizer o quanto ela é importante
para mim. Choro baixo, minhas lágrimas escorrem de meu rosto, passo a mão sobre
meus olhos para enxugar as lagrimas. Esqueço que não há ninguém em casa, então
não preciso chorar baixo, o que eu quero mesmo é gritar em agonia por ela não
estar aqui comigo nesse momento difícil.
Minha mãe, logo ela que sempre me entendeu,
sempre me apoiou, nunca zombou de mim por meus incríveis talentos pensativos.
Ela é meu anjo da guarda, sinto muito mesmo por existir gente tão má como o
David. Só de pensar em seu nome me dá náusea.
Então
meu choro passa, e acho que consigo cochilar, porque meus olhos escurecem por
um instante. O sonho vem logo após eu fechar os olhos.
Isso foi mais cedo, antes do incidente com
Simon.
Aqui
estou eu novamente na quinta serie, eu tinha onze anos. Estou chegando na
escola, passando pelo corredor mais fino desse lugar. Shiz está ao meu lado
andando comigo. Simon estava andando em minha direção, então ele para e nos
olha.
– Estão bem vestidas hoje – disse ele.
– Obrigada Simon – eu disse com naturalidade.
– É, eu já sabia disso Simon – Shiz disse isso
com tanta certeza, que tive até vontade rir, ela era realmente muito
convencida.
– Então Cat, me desculpe pelo o que acontecerá
hoje – ele disse um tanto nervoso.
– Hã? – perguntei
– É uma brincadeirinha, você sabe, meu grupo,
eles adoram brincar com os outros.
– Ah sim, – eu realmente não sabia do que ele
estava falando.
Andávamos pelo corredor com uma lâmpada
quebrada. E então estávamos na hora do recreio. Eu estava conversando com Shiz.
Simon como sempre fofocando com seus amigos. Até que aquilo acontece. Simon me
perguntava sobre meu pai, e eu com raiva apliquei um pensamento mal sobre ele.
Acordei
e já era de manhã, então me dei conta novamente que minha mãe não estava em
casa. Fui para a cozinha, fitei a parede solitária. Ninguém me abraçaria me
desejando um bom dia, ninguém faria para mim panquecas de maçã. Ninguém mais me
entendia.
A
porta se abriu. Por precaução peguei uma faca que estava no faqueiro, e
coloquei as mãos para trás.
– Quem está ai? – Acho isso engraçado
pois, sempre quando vejo filmes acho muita tolice as pessoas que chegam e
perguntam, QUEM ESTÁ AI?
Ninguém
reponde.
– Eu tenho uma faca na mão – ai que tolice a minha.
– Com licença, desculpe-me se te assustei –
Conheço esse cara, ele é um vizinho. Ian.
Ahh,
Ian, eu sou meio que apaixonada por ele desde a sexta série. Ele mexe comigo, e
mexe muito.
– Eu vim a pedido de minha mãe – disse ele.
– Sim? – Eu digo tampando os olhos com a mão, por causa dos raios
solares que entram pela janela.
– Ela me perguntou o que aconteceu, digo, ontem a tarde ela ouviu uns
gritos, ela disse que pareciam vir daqui. – diz ele.
– Ela ouviu? – Eu digo um tanto esperançosa. – Que palavras ela ouviu?
A
expressão em meu rosto não é boa, e acho que ele notou, quando eu baixei o
olhar.
–
Está tudo bem Catherine? – Ele perguntou se eu estou bem, e acho que eu
enlouqueceria com isso, se estivesse realmente tudo bem. Sou louca por ele há
muito tempo, e ele nunca me perguntou se eu estava bem.
–
É... não... é... nada – eu digo pausadamente.
–
Então ta, se você precisar de algo, e só ligar.
– Eu
ligo! – por favor, não vá! – Quero muito dizer isso, mas as palavras
sumiram completamente de minha boca.
Agora estou novamente sozinha na cozinha,
estou pensando em tantas coisas ao mesmo tempo que acho que é demais para um só
cérebro. Penso em minha mãe, penso no cara de preto, o que será que ele havia
feito para espantar aqueles garotos? Penso no porque David raptaria minha mãe,
porque ele é louco por mim? Tantas perguntas não respondidas.